Do ano passado para cá venho numa jornada quase arqueológica revisitando e jogando pela primeira vez alguns jogos das gerações de 8 e 16 bits que eu nunca havia terminado. Super Mario Bros (1985) do Nintendinho devidamente zerado.
Continuo jogando os lançamentos do Xbox One e outros jogos mais modernos, mas a Nintendo conseguia (e ainda consegue) criar experiências ideais para a minha rotina de gamer-pai-músico-professor. Recompensas em intervalos de tempo mais curtos e mecânicas simples, mas desafiadoras.
Muito massa ter chegado ao fim de um clássico que não joguei na "época certa" dado a minha infância seguista. A estreia do bigodudo nos 8-bits da Big N envelheceu muito bem.
Saímos mais tarde de casa do que eu gostaria. Por volta das 11h. Mas o nascer do sol tardio para os padrões natalenses e o frio matinal do inverno montevideano, justificam, em parte, nosso atraso.
Começamos o programa do dia com um passeio na orla da cidade, seguindo a famosa Rambla. Saímos de Punta Carretas em direção a Pocitos. Quem é acostumado com a orla de cidades nordestinas como Natal e especialmente Maceió, a "via costeira" de Montevidéu não impressiona. O fato de eu já ter conhecido o Rio da Prata em Buenos Aires e Colônia, também contribuiu para enfraquecer a impressão que tive da costa da cidade. De toda forma, fui impactado pelo casamento da paisagem natural com a arquitetura sessentista dos prédios da Rambla.
Talvez por se tratar de um dia de semana, senti a falta de mais pessoas caminhando ou se exercitando pelo calçadão daquela que parece ser uma das áreas mais nobres da capital uruguaia.
Continuamos caminhando até o letreiro da cidade, tal qual o que inauguraram recentemente em Natal, na Praia de Areia Preta. Pausa para fotos e vídeos de turista e decidimos voltar ao nosso ponto de origem, dessa vez caminhando por dentro do bairro de Pocitos. Em geral, achei a paisagem dessa área de Montevidéu bem parecida com Copacabana e outros bairros da Zona Sul carioca.
Um dos momentos mais legais desse dia de flanagem, foi chegar, por acaso numa feira de alimentos, de rua. Para quem tinha como referência as feiras natalenses, aquela uruguaia me encantou bastante. Fiquei surpreso com a aparência, tamanho e suposta qualidade dos vegetais expostos. Também não passaram despercebidos alguns trailers/caminhões que vendiam diversos tipos de queijos e embutidos.
Mas um pouco de andança pela região e acabamos chegando no lugar que havíamos escolhido para almoçar: o restaurante Le Perdiz. Mais uma vez fomos em busca dos assados do Uruguai. Mais uma vez foi uma experiência ímpar degustar a carne do país. É impressionante como eles conseguem conciliar uma carne extremamente macia, limpa e no ponto certo. Não lembro se já abordei isso em textos anteriores sobre essa viagem, mas eu saí do Brasil com um certo receio dos preços dos restaurantes do Uruguai. Os blogs e demais fontes que consultei alertavam para esse fato. No fim, achei tudo meio compatível com o preço que se pratica em Natal. Considerando que estamos pagando cerca de R$ 50 por pessoa em churrascarias nobres da cidade é que gasto isso ou mais quando vou, por exemplo, ao Rachid's, penso que está bem razoável.
Após o almoço, nos separamos em dois grupos e rumamos em direção ao Estádio Centenário. Mais uma vez achamos mais fácil tomar um Uber do que outras formas de transporte.
Provavelmente Montevidéu não precisa de um sistema de metrô. Os ônibus não aparentam andarem muito lotados e parecem chegar a praticamente toda a cidade, mas confesso que fiquei um pouco mal acostumado com as facilidades do metrô de Santiago.
A ideia de programação para o estádio-sede da Copa de 1930 era uma visitação ao Museo do Futebol. Assim foi feito. No geral, achei o museu bastante desorganizado. Não há uma lógica na disposição dos itens expostos. Não se sabe se estão organizados de maneira temática ou cronológica. Inclusive há a presença de uma série de objetos que não são diretamente ligados ao esporte bretão. É o caso de alguns cartazes de jogos olímpicos.
O segundo andar do museu tinha itens mais interessantes, como troféus e camisas de clubes e da seleção do país.
Mas a melhor parte da visita ao museu foi poder entrar e contemplar o estádio a partir da arquibancada. A minha ligação com o futebol, por si só, já seria suficiente para que uma ida ao Centenário me emocionasse de alguma forma. Mas, por razões desconhecidas, vim nutrindo ao longo da minha vida um tipo de admiração pelo futebol uruguaio. Até consigo listar alguns episódios esporádicos em que a mística da celeste e do futebol uruguaio como um todo me tocaram, como a final da Copa América de 1995, as oitavas de final da Copa de 1990 e a graça de ter sido pego de surpresa ao poder ver um jogo do Penharol, em Colônia, em janeiro de 2011.
Estar no Centenário, ainda que apenas na condição de visitante, trouxe-me uma emoção diferente. As condições gerais do estádio me surpreenderam positivamente. A impressão que construí nos últimos anos, ao assistir partidas e reportagens pela televisão, era a de que o estádio estava em condições de conservação piores do que as que de fato encontrei.
A vontade de assistir uma partida naquele templo do futebol tomou conta de mim tão logo deixei as arquibancadas. Passei tanto tempo deslumbrado que quase perdi a hora de mais uma etapa do tour: uma visita ao mirante daquele equipamento esportivo. Segundo a guia que acompanhou a mim e Marcia, aquele era o ponto mais alto da cidade para uma mirada em 360º.
Experiência interessante, ter uma impressão das cercanias do estádio de um ponto tão alto, mas o Centenário parecia imantado em relação aos meus olhos. Logo esqueci da paisagem mais ampla de Montevidéu e voltei minha atenção para o templo do futebol uruguaio.
Infelizmente, a lojinha do museu estava fechada quando eu e Márcia concluímos nossa visita, mas os últimos momentos no lugar foram suficientes para que os gentis funcionários, ao perceber meu deslumbramento, me informassem que o jogo do Nacional, que acontecerá amanhã - e eu imaginava que ocorreria em outro campo - será ali mesmo, no Centenário. Confirmei a informação na bilheteria, mas preciso descobrir onde posso comprar minha entrada, já que, por alguma razão, os ingressos não serão vendidos no palco do espetáculo.
Após deixar o museu, demos uma volta no mesmo parque em que já estávamos. Como de praxe, havia muitos brinquedos de criança e Nina se fez. Num dado momento foi interessante ver Nina interagindo com uma garotinha montevideana com idade semelhante a dela. Mais uma vez fomos bem recebidos por locais da cidade. O pai da nova colega de Nina foi bastante gentil e nos ajudou bastante ao indicar o local correto para pegarmos o ônibus que nos levaria de volta a Punta Carretas.
Em janeiro de 2011, eu e Márcia fomos a Buenos Aires acompanhados de Gabriela e Louise. Naquela ocasião, eu não me preocupei nem um pouco com a programação da viagem, confiando às garotas a tarefa de elaborar o roteiro. Marinheiro de primeira viagem em viagens para o exterior, acatei aquilo sem problemas e gostei bastante das escolhas que elas fizeram.
Acontece que voltei daquela viagem decidido a ser mais proativo no planejamento das minhas próximas investidas fora de Natal. Em quase todos os destinos para os quais fui a partir de então, me envolvi bastante na pesquisa sobre os lugares, chegando mesmo a gostar daquela tarefa.
Um misto de preguiça e desprendimento me fez despreocupar com o planejamento do que faria em Montevidéu. Cheguei a pesquisar em várias fontes, de blogs a vídeos, mas acabei sem sistematizar as informações que colhi em algo como um roteiro. O resultado é que cheguei com uma impressão geral sobre o que fazer na capital uruguaia, mas não tenho a menor ideia do que faremos em cada dia.
Em nosso primeiro dia completo em Montevidéu, iniciamos o dia - já perto do início da tarde - com uma exploração do Centro. Tomamos um ônibus, cujo motorista nos avisou quando descer para que estivéssemos próximos à Cidade Velha.
O ponto de partida que escolhemos foi a Praça Independência, um dos cartões postais da cidade (não que isso me valha alguma coisa). De cara, chamou-me a atenção a sobriedade do prédio em que está sediada a presidência do país. Funcional e de uma beleza discreta. Provavelmente, estou chegando ao Uruguai com visão exageradamente positiva, dada a desesperança que gira em torno da situação político-econômica do Brasil. Mas é impressionante constatar como um país de formação histórica semelhante à brasileira, funciona minimamente.
Andamos meio aleatoriamente pelo Centro, no intuito de chegar ao Mercado do Porto, onde almoçaríamos. Entramos pelo portal da Cidade Velha e seguimos por uma espécie de passeio público margeado por lojas instaladas em prédios antigos.
A primeira parada mais demorada foi na Praça da Constituição, na qual se destacou uma espécie de igreja matriz. Não foi difícil constatar a influência espanhola no estilo arquitetônico daquele edifício católico. Construção horizontalizada e sobriedade na forma que remetem diretamente às paisagens coloniais do norte do México.
Na sequência, seguimos o caminho e chegamos ao mercado do porto. Eu esperava um lugar mais caótico e inóspito, mas encontrei outra realidade. O calor das churrasqueira dos restaurantes funcionam como aquecedor para o inverno da cidade. Realmente, é de se imaginar que durante o verão a sensação não seja das melhores. Como o objetivo daquele almoço era ir a um bom lugar de carnes, escolhemos a primeira churrascaria que parecesse agradável e me surpreendi com a qualidade da comida.
Saindo do mercado, optamos por seguir em direção à 5 de julho, onde se localiza boa parte do comércio de rua da cidade. Fiquei impressionado com a quantidade e variedade de lojas, mas logo relacionei essa característica à timidez do Punta Carretas Shopping. Aproveitei o deslocamento e parei na Antel, a estatal de telecomunicações do país. Ainda na Cidade Velha eu havia comprado um chip pré-pago da operadora e não consegui fazê-lo funcionar. No fim das contas, entendi como funcionava o processo, mas por alguma razão os meus créditos acabaram bem antes do que eu imaginava.
Eu, Márcia, Nina e Gabi optamos por voltar caminhando para o nosso Airbnb e foi uma ótima experiência, já que cruzamos a fronteira entre o Centro e uma área mais residencial da cidade.
Chegamos por acaso a um ponto turístico da cidade: uma daquelas grades onde turistas abobalhados prendem cadeados. Na mesma esquina havia uma estátua de um dos carrascos brasileiros na Copa de 1950: Giggia. Também estávamos em frente a uma sorveteria na qual decidimos entrar. Sorvete ok. Mas o melhor dessa pausa foi poder observar, sem ser visto, um mexicano assistindo a semi-final da Copa das Confederações entre o seu país e a Alemanha. Sou bastante curioso para ver como pessoas de outros países lidam com as questões que me interessam. Futebol certamente é uma delas.
Após isso, caminhamos cerca de 1h30 até chegarmos a nossa hospedagem. Excetuando-se uma ladeira ou outra, flanar pela capital uruguaia é, sem duvida, uma experiência que pretendo repetir outras vezes.
Sobretudo pelo meu gosto por futebol e pela seleção uruguaia, há muito tempo cultivei uma curiosidade sobre Montevidéu. Depois de alguns dias em Santiago, hoje chego na capital uruguaia cheio de empolgação.
Hoje terminei de ler Hoje terminei de ler "Kafka à Beira Mar", de Haruki Murakami. A tendinite no punho me impede de escrever mais sobre as minhas impressões, mas percebi algumas repetições de motivos que apareceram em 1Q84. Alguns personagens preocupados com o condicionamento físico, outros em cativeiros em apartamentos.
Não me cativou tanto quanto o primeiro que li do autor japonês, mas entreteve.
Há alguns dias comecei a ler a autobiografia de Rita Lee.
Assim que o lançamento do livro foi noticiado, fiquei curioso para ver o que a ex-mutante tinha para dizer sobre a sua história de vida. Como bom fã daquela que muitos consideram a maior banda de rock brasileira da história, me interessa em especial o que a artista poderia falar sobre a sua passagem pelos Mutantes.
Passei a me interessar pela banda paulista quando ainda estava na UFRN e durante a produção do primeiro disco do SeuZé. Li a biografia de Carlos Calado e ouvi bastante os primeiros discos do grupo. Também fiquei viciado durante muito tempo no Lóki, de Arnaldo.
Rita, porém, se vale de um certo desdém para rememorar seus momentos na banda. Compreensível até certo ponto dada a relação conturbada que ela assumiu ter com Arnaldo Baptista e pela maneira como foi enxotada da dos Mutantes. Contudo, é interessante para se questionar se esse status cult que a banda desfruta não foi construído a posteriori, depois de nomes como Kurt Cobai, Sean Lennon e David Byrne declararem sua admiração ao trio.
O estilo de escrita informal de Rita, sem preocupação com a construção de uma narrativa fluída e que dê alguma liga aos diversos “micro-capítulos” do livro, me incomodam um pouco e comprometem a fluidez da leitura em certos pontos. Por outro lado, dá um caráter mais confessional e crível às situações descritas e é um sopro interessante de autenticidade, num mercado de autobiografias repleto de co-autores e, mais grave, ghost-writers. (Ano passado li a autobiografia de Dado Villa-Lobbo, produzida em coautoria com um escritor de ofício cujo nome não recordo, e senti falta de uma pegada mais pessoal no texto).
Mais uma vez estou lendo no Kindle e a minha relação com o reader e os e-books se torna ainda mais natural. Livros digitais - desde que não sejam técnicos e não tenham muitas imagens que influenciem a leitura - têm sido a minha primeira opção de compra.